Psicóloga explica o que há por trás da busca por cirurgias estéticas

Para entender esse cenário e o que leva à tamanha insatisfação com o corpo "natural", conversamos com Déborah Bianchin, psicóloga em Cuiabá

Em outubro, Thayane Oliveira Sousa Leal, 35, morreu em Cuiabá após ter complicações em uma lipoaspiração. Em 2023, outra mulher também perdeu a vida ao realizar a intervenção no mesmo hospital.

A busca por realizar uma cirurgia para fins estéticos é crescente Brasil a fim de alcançar um padrão de beleza que muda constantemente e segue inatingível, colocando em riso a vida de muitas pessoas, principalmente mulheres no segundo país que mais realiza esses procedimentos no mundo.

Para entender esse cenário e o que leva à tamanha insatisfação com o corpo "natural", conversamos com Déborah Bianchin, psicóloga em Cuiabá.

 

De acordo com levantamento da Associação Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS na sigla em inglês), o Brasil foi o segundo país a mais realizar procedimentos estéticos no ano de 2023, com 3,3 milhões de registros. O país já conta com cerca de 6.700 cirurgiões cadastrados na Associação Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).

 

Além dos procedimentos estéticos, a indústria da beleza é mais do que as intervenções, com toda uma gama de cosméticos, produtos e estilo de vida que pregam a “forma correta” de como se parecer e agir.

 

A psicóloga Déborah Bianchin explicou que a busca incessante por ser belo é não é atual ou fruto de uma insatisfação momentânea, mas é uma percepção construída ao longo dos anos, da formação do ser humano e de acompanhar o que é considerada a beleza presente em anúncios, televisão e na internet.

 

“A comparação não começa só quando você decide fazer uma cirurgia. Ela começa desde que você sai da sua casa, desde que pega um celular na mão, liga a televisão ou vê um outdoor dizendo o tempo inteiro quem é belo ou não. Mas tá tudo bem se você não for belo. Porque se você não for belo, a indústria vai poder te consertar”, explica ela.

 

Além disso, a edição de fotos e uso de filtros nas redes sociais é um fator que influencia nos problemas de autoestima. Alterar o formato da barriga ou mudar algo no rosto em uma foto é uma ação fácil, mas que pode trazer impactos no entendimento de si e insatisfação com a aparência real.

 

Um exemplo disso foi a cantora Anitta, que em 2019 contou em entrevista que levou uma foto de seu rosto editado até uma cirurgiã plástica para mostrar como gostaria de se parecer.

 

O problema é que realizar cirurgias envolve um risco e elas não garantem a permanência do corpo perfeito que é pregado pela indústria da beleza, que se reinventa e traz sempre mais procedimentos e tendências. 

 

Cirurgias plásticas a busca pelo padrão é errado?
A profissional explica que o padrão corporal mostrado nas redes sociais é incompatível com o estilo de vida de muitos brasileiros que trabalham, cuidam de casa e da família. Essa impossibilidade em ter o corpo perfeito de forma “natural” leva muitos a procurarem por cirurgias plásticas, um método mais fácil, sem esforço e mais rápido de alcançar a silhueta dos sonhos.

Reprodução

Déborah Bianchin, psicóloga

 

 

Os procedimentos estéticos, entretanto, se alteram constantemente e o belo e perfeito dificilmente conseguem ser alcançados ou estarem conforme as tendências do momento.

 

“A sociedade produz coisas novas o tempo inteiro. Nós não conseguimos comprar e não conseguimos consumir tudo sugerido pela indústria. Assim, nós nunca nos sentiremos completos ou sentir que a gente alcançou um prazer. Então é como se eu estivesse dizendo para você que a insatisfação é permanente”, explicou Déborah Bianchin.

 

Ao trazer o questionamento sobre ser certo ou errado realizar cirurgias plásticas, Bianchin indaga sobre “o que é o errado?”. Ela explica que, quando ouve pacientes relatando insatisfação com o próprio corpo e busca entender onde realmente está o problema ou o incômodo pessoal.

 

É um fato que a busca e dificuldade em atingir a “perfeição” podem trazer problemas emocionais e sociais. Tudo pode começar com a baixa autoestima e um sentimento de não se sentir bonito o suficiente para estar em público, que pode trazer problemas cada vez piores, como isolamento social, desenvolvimento de quadros de ansiedade, depressão, transtornos alimentares ou até irritabilidade constante.

 

“As pessoas ignoram muito a irritabilidade, essa irritação que não tem fim e não se sabe o motivo. O isolamento social também é um problema, pois a partir do momento que eu não me vejo como eu buscaria, vou deixando de conversar e de me encontrar com as pessoas porque elas vão ver que eu não sou o ideal que a sociedade cobra”, afirmou.

 

Realizar procedimentos e cuidar de si não é problemático, mas deve-se ter atenção quando esse fator ocupa parcela significativa da vida de um ser humano e começa a atrapalhar outros fatores, como o social, financeiro e mental.

 

"É importante lembrar que cirurgias plásticas têm um risco e que é de obrigação do profissional explicar ao paciente antes dos procedimentos. A reflexão dos riscos e do que aquele procedimento significa para cada pessoa é algo que deve existir", explicou Bianchin.

 

A própria ABCP destaca a importância e o cuidado de realizações de cirurgias em prol da beleza. “Ao passo que a cirurgia plástica pode melhorar aspectos do corpo e da vida, existem riscos que não podem ser desprezados”, destaca em seu site. 




Fonte: Gazeta Digital
Crédito da Foto: Freepick