Antes crítico de câmera corporal para a PM, secretário da segurança de SP agora defende equipamento

Os equipamentos adquiridos com a nova licitação devem substituir parte das COPs já existentes, diz a secretaria

Dois meses após afirmar que o uso de câmeras corporais inibe os policiais militares em sua atividade profissional, o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Guilherme Derrite, mudou de posição. Nesta sexta-feira, 10, em entrevista coletiva após evento, disse que o equipamento "pode ser muito bom não só para o policial, como para a população".

 

Em 6 de março, durante reunião na Assembleia Legislativa que tratava dos supostos excessos cometidos por policiais militares durante operações realizadas na Baixada Santista, Derrite - que é oficial da reserva da PM de São Paulo, com o grau de capitão - afirmou que ‘a utilização das câmeras (adotadas pela corporação durante a gestão do governador João Doria, de 2018 a 2022) reduziu todos os números: prisões, apreensões de armas, abordagens. Reduziu uma série de coisas que nos leva a crer que inibiu a atividade policial‘.

 

Na mesma ocasião, afirmou que era melhor aplicar o dinheiro das câmeras em tornozeleiras eletrônicas: ‘Prefiro monitorar o criminoso, é mais barato. Inclusive, chegando ao preço de quase um terço uma tornozeleira eletrônica em detrimento da câmera corporal‘, disse. A postura contrária às câmeras não era novidade: Derrite já havia criticado o equipamento outras vezes.

 

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem Derrite está subordinado, também já fez esse movimento. Até 2 de janeiro, pelo menos, ele criticava as câmeras: ‘Qual é a efetividade da câmara corporal na segurança do cidadão? Nenhuma‘, disse em entrevista à TV Globo naquele dia. Vinte dias depois, porém, mudou de opinião: ‘A gente vai usar tecnologia. A câmera corporal é uma das componentes de tecnologia que se integram ao Muralha Paulista, então nós vamos avaliar o uso dessas câmeras, né? Há possibilidade até de ampliação‘, afirmou o governador.

 

Na sexta-feira, depois de comentar o caso de um policial militar que atirou contra um suspeito e teve sua ação gravada pela câmera, o secretário Derrite teceu elogios ao equipamento: ‘É uma política pública que foi muito questionada, que gerou polêmica. Eu mesmo, na época da campanha, questionei a utilização da câmera e sua eficácia, (mas) pude acompanhar que ela pode ser utilizada para outras funcionalidades, pode ser muito bom não só para o policial, como para a população‘, afirmou.

 

Derrite, então, discorreu sobre o próximo edital para a compra de câmeras: ‘Nesse contexto, estamos estudando um novo edital, e nesse edital a câmera vai ter novas funcionalidades, podendo inclusive fazer reconhecimento facial. Não exclusivamente como ferramenta de fiscalização e controle, que é válida também, no meu ponto de vista todo servidor público tem que ser fiscalizado, mas a gente está trazendo uma proteção para o policial, um auxílio nas investigações futuras de qualquer tipo de crime, e com novas funcionalidades. Eu falei do reconhecimento facial, mas tem câmeras corporais que são utilizadas com rádio comunicador‘, concluiu o secretário de Segurança.

 

Segundo a pasta, em 26 de abril o governo anunciou o lançamento de um novo edital para contratar 3.125 novas câmeras corporais portáteis (COPs) para a Polícia Militar. Elas vão permitir a leitura de placas, para identificar veículos roubados ou furtados, e a identificação de ‘situações e fatos de interesse policial‘, diz a secretaria. ‘Além disso, possibilitarão melhor captação de áudio e vídeo, contribuindo com a proteção dos policiais e da população‘. Também está em estudo a incorporação da tecnologia de reconhecimento facial nos novos equipamentos, afirma a pasta.

 

Hoje 10.125 câmeras corporais estão em uso, atendendo 52% dos policiais militares do território paulista. Os equipamentos adquiridos com a nova licitação devem substituir parte das COPs já existentes, diz a secretaria. Também está em andamento uma licitação para contratar mais três mil dispositivos a serem acoplados às viaturas.