Em vigor oficialmente desde terça-feira (20), o "Cidade Verde Estacionamento Rotativo Digital" tem dividido opiniões entre a população cuiabana, em especial os frequentadores do centro da capital. Locais para pagamento e vagas causam confusão na primeira semana de cobrança.
Implantado há poucos dias, o impacto urbano da medida é sentido no visual da área central da cidade, com dezenas de faixas penduradas entre os postes de iluminação e nas placas instaladas nas calçadas indicando os dias e horários de funcionamento, o tempo limite de estacionamento e a lei que o regulamenta, além do pagamento obrigatório da tarifa e se o local é exclusivo para carros ou motos.
Luiz Leite
Contudo, apesar da forte sinalização, entre os comerciantes, clientes, motoristas e transeuntes da região o tema ainda gera diversas dúvidas.
Luiz Leite
O motorista de aplicativo Airton Moreno, 60, afirma que normalmente já não faz muitas corridas pelo centro por considerar o trânsito no local mais complicado. “Eu evito sempre nas corridas. No dia a dia, quando vou comprar alguma coisa, prefiro outro local mais afastado”, justifica. Para ele, a medida influencia não só a profissão, mas também os compromisso pessoais da população.
Apesar de ter visto várias placas como as descritas anteriormente, conta que circulando o pelas ruas do centro ainda não havia parquímetros instalados por onde passou. “Acho que as pessoas ficam com um pouco de receio de quanto tempo vai durar, se tem um tempo de tolerância para estar ali estacionado. Eu não sabia que já estava sendo cobrado. Eu vi as placas hoje, mas vi uma reportagem sobre isso, ontem ou segunda”, conta.
Assim como Airton, o motorista de aplicativo Willian Ribeiro tem dúvidas quanto ao estacionamento rotativo. Por trabalhar com embarques e desembarques rápidos, se preocupa em como a regra pode afetar sua atividade profissional.
“Quando o motorista de aplicativo não tem uma corrida já para sair, ele tem que parar em algum lugar para esperar alguém chamar. Então se esse cara tiver que ficar em um lugar, vai ser ruim porque o valor da corrida já é baixo, o custo de manutenção é alto, e ter que pagar mais para ficar parado. Se parar na rua leva multa, então fica difícil. Para o passageiro vai ficar pior para conseguir motorista. A tendência do valor da corrida é subir, ficar mais caro, e aí os motoristas não vão querer vir para cá por isso”, explica.
Luiz Leite
Funcionária de uma loja de confecções no centro da Capital, a vendedora Karen Ferreira, 18, diz que, apesar do curto período em que a medida está em vigor, o impacto já é sentido no comércio onde atua e também nos demais estabelecimentos vizinhos.
“Aqui está muito parado. O centro está todo parado, tá todo mundo reclamando com os comerciantes. Muita gente que para ali vem direto aqui perguntar se é aqui que está cobrando, se aqui faz convênio, se está pagando aqui, a gente fala que não”, narra.
“Na minha opinião isso não vai dar certo, não vai para frente porque precisa instalar um aplicativo para pagar. Então, por exemplo, para um idoso ou quem não sabe mexer no celular, como vai instalar? Esse negócio não vai para frente”, lamenta.
O gerente comercial Luiz Silva, 44, havia acabado de estacionar o carro quando abordou espontaneamente a reportagem. Apesar de considerar a medida positiva para gerar rotatividade no estacionamento da região, relata que ainda falta organização para passar a valer.
Ele disse que estava receoso de levar uma multa pelo fato de não ter encontrado alguém para fazer esse pagamento ou um parquímetro na localidade.
“A gente estaciona o carro, só que não sabe como funciona, você não sabe que aplicativo que é, você não sabe o valor que é se é por hora. Então, implantar uma coisa desse jeito não funciona. Só preocupa mais ainda, as pessoas já não vão querer vir ao centro. Se for para os carros estacionarem, comprar e ir embora, tudo bem, aí você está ajudando o lojista, mas se for desorganizado desse jeito, aí você vai afastar todo mundo. Vai todo mundo para o shopping. As pessoas não vão parar para tomar multa. Esse é o medo hoje", narra.
Luiz Leite
Já um comerciante que preferiu não se identificar considera é cedo para avaliar a medida. “Está muito recente para tirar qualquer conclusão. Tanto em questão de movimentação maior ou se diminuiu a movimentação por causa disso. Acho que a gente teria que esperar um pouco mais de tempo, uma semana, duas semanas, ou até um mês, para a gente realmente ter um comparativo de um período fechado com o outro”, aponta.
O homem ponderou que, apesar de o movimento não ter sido afetado no estabelecimento de imediato, percebeu que há menos carros estacionados nas ruas da região. “Não sei se isso significa menos pessoas aqui, mas carros eu vi bem menos, então não sei se isso pode proporcionar menos pessoas também. Acho que o pessoal está meio acanhado, isso pode afetar a questão de as pessoas pararem em outros lugares mais distantes. Quem trabalha por aqui provavelmente vai optar por um estacionamento particular", avalia.
Afinal, como e onde estacionar?
São 2.300 vagas na área central da cidade e os valores variam conforme o tipo de veículo. A cobrança será feita de segunda a sexta, das 7h às 19h, e aos sábados das 7h às 13h. Nos domingos e feriados, o estacionamento é livre, conforme a Lei complementar nº 504, de 28 de dezembro de 2021.
Para os carros, o preço será de R$ 3,40 por hora. Já as motos pagam R$ 2. Bicicletas têm estacionamento gratuito, caso não estejam em vagas de carros ou motos. Pessoas com deficiência têm gratuidade durante o prazo máximo de permanência de 4 horas em uma vaga.
Reprodução
Veículos que fazem carregamento ou descarga de mercadorias e produtos, assim como caçambas que ocuparem as vagas, terão de pagar os valores do local e se atentar às marcações de locais específicos destinados a essas atividades, sinalizados nas ruas.
O pagamento é feito pelo aplicativo Digipare ou diretamente nos parquímetros instalados pela concessionária nas calçadas.
Otmar de Oliveira
O aplicativo pode ser baixado na Apple Store e Play Store. No site www.digipare.com.br é possível fazer o cadastro, login, selecionar a cidade e seguir as instruções do site. Será disponibilizado um número de telefone para ativação do estacionamento. As opções de pagamento incluem cartão de crédito, débito e boleto bancário.
No aplicativo é possível emitir o ticket eletrônico de estacionamento, recarregar o crédito virtual, realizar regularizações e controlar o saldo e ativações. O sistema oferece opção de notificar o término do prazo do ticket, permitindo renovação se for necessário.
Já nos parquímetros, para ativar a vaga é preciso informar a placa do veículo. Ele não aceita cédulas e não fornece troco, sendo possível somente pagamento em cartão de crédito, débito e moedas.
Nos pontos de vendas em estabelecimento comerciais identificados com a marca do Cidade Verde Estacionamento Rotativo Digital é emitido o ticket eletrônico e realizada a recarga de créditos no app e serviços de regularização.
Na primeira fase de operação, os parquímetros estão localizados nos seguintes logradouros:
Praça 8 de Abril – Popular
Praça Santos Dumont – Quilombo
Praça Clóvis Cardoso, 248
Rua Arnaldo De Matos, 56
Rua Comandante Costa, 1181-961
Rua Antônio Maria Coelho
Rua Des. Ferreira Mendes, 286
Rua Comandante Costa, 1384
Rua Des. Ferreira Mendes, 268
Rua Barão de Melgaço
Rua Estevão de Mendonça, 173
Rua Pres. Castelo Branco, 162-242
Rua Pres. Castelo Branco, 123
Rua Cândido Mariano, 990
Rua Batista das Neves, 155
Rua Cândido Mariano, 1076
Rua Batista das Neves, 22
Rua 24 de Outubro, 314
Av. Pres. Getúlio Vargas, 1097
Av. Presidente Marques, 226
Av. Pres. Getúlio Vargas, 750
Av. Mal. Deodoro, 1827
Av. Isaac Póvoas, 560
Av. Sen. Filinto Müller, 8
Av. Isaac Póvoas, 900
Vale reforçar que a tolerância é de 10 minutos entre o ato de estacionar e a ativação do pagamento. Além disso, o tempo máximo de permanência é de 4 horas. Após esse período o usuário deve deixar a vaga livre, devido ao princípio de rotatividade.
A fiscalização será feita por monitoramento das placas dos veículos e em caso de não pagamento, os usuários serão notificados e terão um prazo para regularização. O não pagamento da tarifa resulta em multa de R$ 195,23 e 5 pontos na Carteira Nacional de Habilitação.
Fonte: Gazeta Digital