Professor visita dezenas de países em pesquisa e congressos

Cuiabano de nascença, cresceu e foi criado na região do CPA, onde estudou e depois migrou para o centro para fazer o curso técnico

Para grande parte dos brasileiros, viajar e conhecer o mundo é um desejo que exige grande planejamento. Em geral, as amarras dos trabalhos tradicionais ainda são um impeditivo para que muitos não tirem do plano das ideias esse sonho, que parece sempre muito distante e até impossível.


Mas, e se viajar para outros países fosse o seu "trabalho"? O professor e pesquisador Danilo de Souza, 35, nunca havia imaginado que um dia isso aconteceria, mas hoje ele é praticamente um nômade.


Cuiabano de nascença, cresceu e foi criado na região do CPA, onde estudou e depois migrou para o centro para fazer o curso técnico.

Trabalhou como técnico na Eletrônica Paulista e cursou Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Chegou a estagiar na Usina Hidrelétrica de Itaipu, onde trabalhou na operação da usina, no controle e despacho de carga e na comunicação com agentes do setor elétrico.


Fez estágio na Eletronorte, em redes e manutenção de computadores, algo que abriu portas para o setor elétrico. Também trabalhou com construção de subestações no interior de Mato Grosso. 


Inicialmente, carreira acadêmica não fazia parte de seus planos, nunca havia pensado em ser professor. A intenção inicial era terminar o curso e atuar no mercado, mas aconteceu. Fazendo concursos públicos aqui e ali, em uma das tentativas ele  passou e tomou posse na UFMT, onde leciona desde março de 2012.


Fez especialização no Rio de Janeiro, mestrado na Universidade de São Paulo (USP) no Instituto de Ambiente e Energia. Foi então que veio a primeira experiência internacional, em 2016, com um uma graduação "sanduíche" na Universidade Politécnica Estatal de San Petersburgo, no Instituto de Energia e Transporte de Leningrado, na Rússia.

 


O estudo "sanduíche" é um tipo de intercâmbio em que o estudante pode cursar por um ou dois semestres em outra instituição, no Brasil ou no exterior, e depois retorna à universidade de origem para concluir as aulas.

 

Danilo relembra que durante o período em que estava quente na Rússia pode conhecer vários locais. “Foi uma vivência cultural muito grande, uma contribuição cultural muito interessante. Pude visitar espaços históricos, ver muita história da segunda grande guerra, foi muito interessante esse período”, recorda. Nesse tempo conheceu San Petersburgo, Moscou e teve contato com pesquisadores internacionais.


De volta ao Brasil trabalhou na coordenação de curso. Anos depois, saiu para o doutorado e foi para a Universidade de São Paulo. Veio a pandemia e, posteriormente, começou a apresentar as conclusões de suas pesquisas sobre eficiência energética de motores elétricos e outra sobre acidentes elétricos, choques, incêndios e raios, que foram apresentados em congressos fora do país e teve a oportunidade de ir para o Chile, Itália, Alemanha, Inglaterra, África do Sul, Portugal, Espanha e Estados Unidos.


“Participar de congressos sempre foi muito interessante. A divulgação científica e as palestras me possibilitaram isso, essa vivência. Normalmente as universidades e centros de pesquisa sempre aceitam estrangeiros para trabalhar. Aqui no laboratório tem colegas da Tanzânia, Brasil, Espanha, Bósnia Herzegovina, da Ucrânia, do Irã, um espaço bem multidisciplinar”, ressalta.

 

 

Atualmente, Danilo está em Portugal, onde se encontra desde outubro do ano passado e ficará por mais alguns meses, mas costuma migrar para outros países da Europa com certa frequência.


“Isso só foi possível devido ao doutoramento, normalmente não é assim. Geralmente é uma viagem internacional por ano para participar e apresentar pesquisas em congressos, por conta do compromisso com a sala de aula, a docência. É um período atípico, mas é uma oportunidade e tenho gostado de trabalhar essa divulgação”, descreve.

 

Mas se engana quem vê só as fotos das premiações nacionais e internacionais, dos passeios turísticos e pensa que as viagens são "puro glamour" e ostentação. Danilo esclarece que as passagens costumam ser as mais econômicas das companhias e pagas por empresas do setor privado que financiam suas pesquisas e a apresentação dos trabalhos.

 

Contudo, o turismo em si sai do próprio bolso quando surge a oportunidade de conhecer os locais por onde tem a chance de passar uns dias após os compromissos.

 

Em relação aos choques culturais, Danilo conta que não os sente muito, já que por onde passa costuma transitar por uma matriz cultural semelhante, como é o caso dos países europeus ou mesmo dos Estados Unidos, onde a cultura, música, hábitos e até os noticiários são semelhantes, apesar das diferenças no vocabulário.


“Não tenho muitas dificuldades de adaptação, então eu aproveito para experimentar a cultura local. Sou fácil de fazer relacionamentos e amizades. [...] Em questão de idioma, com o inglês dá para se virar em qualquer lugar”, acrescenta.

 

“Sempre que vou viajar, pesquiso sobre o local antes, temperatura, particularidades em relação à comida e costumes para não ter grandes conflitos. Mas, em geral, sou de fácil adaptação, nunca tive grandes problemas”, salienta.

 


Questionado sobre quantos países já conheceu, ele cita em torno de 12, mas foram mais de 37 com passagens curtas de duas noites ou até uma semana.


Quando tem a oportunidade de permanecer um pouco mais nos locais, tira um dia para traçar um circuito histórico e visitar museus, igrejas, monastérios, claustros, castelos, praças, monumentos, exposições, cemitérios e marcos de guerras para conhecer a visão histórica e cultural, algo que vai muito de encontro com o perfil de sua personalidade.


Em relação aos museus lembra-se bem do Louvre, que achou caro o bilhete e, devido à quantidade de obras, não conseguiu contemplar, mas se recorda de pinturas e obras que via nos livros do ensino médio. "Era comum ver pessoas se emocionarem na frente da Monalisa", disse. Lembra dos museus gratuitos na Inglaterra e da Abadia de Westminster, onde Isaac Newton e Charles Darwin estão enterrados.

 

 

Sobre o turismo em cemitérios, gosta de pegar os mapas e conhecer as tumbas de personalidades e pesquisadores, em especial aqueles de sua área de atuação, a energia.


Em um deles, no Reino Unido, o túmulo de Karl Marx é frequentemente vandalizado. Algo curioso e que Danilo pontua é o fato de que o filósofo comunista está enterrado em um cemitério privado, enquanto que o “opositor” intelectual, Adam Smith, relacionado ao liberalismo, está enterrado em cemitério público, aberto 24h durante 7 dias por semana, com tours gratuitos.

 

 

Durante os intervalos entre os voos, aproveita para conhecer as cidades e costuma ficar um dia a mais para ter essa oportunidade. Um fato curioso, é que Danilo gosta de ler durante os voos e deslocamentos, então conta quantos capítulos ou páginas leu em cada local e quanto tempo levou para concluir uma obra.


Em relação a mapas, Danilo coleciona todos os que já pegou durante as visitações e também os tickets dos lugares em que passou, algo que daria para cobrir o chão de uma sala, dada a quantidade de material.


Ele também guarda as entradas e credenciais de eventos que participou. Embora pareça um acumulador com tal descrição, revela que, na verdade, é minimalista por opção, levando poucas coisas nas viagens e nem mesmo despacha mala, com bagagens que geralmente se resumem a uma mochila.


Quando está fora, lembra-se da família e amigos. Sempre que pode leva para a avó os famosos ímãs de geladeira de lembranças das viagens. Amigos pedem chaveiros, presentes, e um deles coleciona canetas. Mas às vezes recebe pedidos inusitados, como o de um amigo que pediu uma linguiça portuguesa para levar no isopor refrigerada.


Viciado em doces, costuma comprar principalmente chocolates para levar embora, mas prefere levar como lembrança as memórias e visitas.

 

Sobre coisas que mais lhe chamaram atenção nos locais em que já esteve pontua fatos curiosos como a objetividade da comunicação entre os noruegues, mais até do que os alemães; o grau de confiança no norte da Alemanha ser tão alto, que em locais que não tinha roleta, depositava o ticket de passagem sem ninguém ver ou perguntar se pagou.


Quando foi recebido no aeroporto da Rússia por uma moça, ela reagiu de forma estranha quando ele a abraçou devido ao grau de separação e frieza que os russos têm nas relações. Em Portugal, uma vez, o constrangimento foi ao comprar um picolé, já que é viciado em açúcar, e como não existe self-service, o serviço é pago e o atendente te serve. Sem saber, tentou pegar um picolé e o comerciante ficou bem irritado.


Se sente saudade de algo, a alimentação vem à mente na hora. “A comida regional faz falta, a gente relembra nossa infância, como os costumes são moldados. [...] A comida da vó, o peixe, café doce do meu avô”, ressalta. Ele também sente mais falta dos parentes, dos amigos, mas mais dos avós que estão vivos e fortes e mantém contato por meio de WhatsApp.


Embora receba diversas propostas para trabalhar fora e permanecer de forma definitiva em outros países, por hora não tem interesse e não vê a hora de voltar ao Brasil.





Fonte: Gazeta Digital