Licitação para serviços ortopédicos ficou 300% mais barato que contrato com a Medtrauma

Em nota, a secretaria de Estado de Saúde (SES) afirmou que ontem (19.02) publicou a licitação de substituição da Medtrauma no Hospital Metropolitano

Após pagar quase R$ 22 milhões para a Medtrauma Serviços Médicos Especializados Ltda, via adesão ao pregão que vem sendo investigado pela Polícia Federal sob suspeita irregularidades na execução de serviços ortopédicos em hospitais de Mato Grosso e mais 3 estados, o governo do Estado concluiu uma licitação para os mesmos serviços por 12 meses no valor de R$ 6.679 milhões.

 

Ou seja, acima de 300% mais barato do que se pagou para a empresa entre 2022 e 2023. A discrepância no valor para os serviços médicos prestados pela Medtrauma ao Hospital Metropolitano de Várzea Grande, aumentam as suspeitas de um esquema de superfaturamento em cirurgia e fraude no fornecimento de próteses no Estado.  

 

A Medtrauma foi alvo de busca e apreensão no início do mês durante a Operação Higeia, que investiga a atuação da suposta ‘máfia ortopédica’, conforme já divulgado pela reportagem. 

 

Em nota, a secretaria de Estado de Saúde (SES) afirmou que ontem (19.02) publicou a licitação de substituição da Medtrauma no Hospital Metropolitano.  

 

“Em breve, a empresa será substituída pela vencedora do pleito. No entanto, é importante reforçar que os indícios de fraude e superfaturamento foram constatados em outros estados”, diz trecho da nota.   Contudo, a SES não informou a diferença no valor em relação ao pregão investigado. Ao todo, o valor pago foi de R$ 30.2 milhões se somados ao fornecimento de próteses e órteses (OPMES).  

 

Após a reportagem, a prefeitura de Cuiabá decidiu suspender o contrato com a Medtrauma alegando que irá realizar uma auditoria interna no contrato, e lembrou que a execução do contratou foi feita pela equipe interventora do Estado que comandou a saúde de Cuiabá no ano passado.  

 

A Medtrauma tem como sócios os empresários Osmar Gabriel Chemin e Alberto Pires de Almeida, que são réus na Operação Espelho, que investiga um cartel que supostamente fraudava contratos com o governo do Estado durante a pandemia. O Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) propôs acordo de não persecução penal com os dois no âmbito da Operação Espelho, mesmo eles sendo considerados os líderes da suposta organização criminosa.  

 

Após a publicação, a secretaria de Estado de Saúde (SES) emitiu uma nota alegando que o objeto dos contratos são diferentes. E que a nova licitação trata apenas de serviços médicos, sem o fornecimento de materiais ortopédicos.

 

"A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) esclarece que, neste caso, não é justa a comparação de preços entre os contratos, pois os objetos dos contratos são diferentes. Enquanto o contrato antigo contempla serviço e material, o futuro contrato contempla exclusivamente o serviço", diz a nota.

 

Após a reportagem a Medtrauma emitiu uma nota pública. Veja:        

 

NOTA À IMPRENSA  

 

"A MedTrauma comunica que recebeu com surpresa nesta segunda-feira (19.02), a notícia de que a Prefeitura de Cuiabá suspendeu os contratos com a empresa.   A MedTrauma cumprirá a suspensão, mas alerta que a medida irá prejudicar e impactar diretamente os mais de 400 mil cuiabanos que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) na Capital, além dos pacientes do interior regulados pelo Estado, já que a paralisação dos serviços realizados no Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) deixará a população sem nenhum atendimento ou cirurgia na área de ortopedia.  

 

A suspensão afeta, somente na terça-feira (20.02), 72 pessoas que seriam atendidas em consultas agendadas e outras 12 em procedimento cirúrgico, entre elas uma idosa de 93 anos que aguarda há 9 dias por uma operação no colo do fêmur. Também deixarão de ser atendidos dezenas de pacientes que procuram o HMC no pronto atendimento 24 horas para urgências e emergências.  

 

No município de Cuiabá, a empresa disponibiliza uma equipe de 29 médicos e outros 12 profissionais que atendem 360 pacientes em consultas eletivas e realizam aproximadamente 85 cirurgias semanalmente, além do pronto atendimento na unidade hospitalar. Isso significa que 1,8 mil pessoas deixarão de receber atendimento nos próximos 30 dias apenas em procedimentos agendados.  

 

A empresa reafirma que os serviços foram interrompidos unilateralmente pela Prefeitura de Cuiabá, mesmo a MedTrauma tendo cumprido com todos os requisitos obrigatórios e legais para a execução de um serviço eficaz, e a Prefeitura estando três meses em atraso com os pagamentos necessários do contrato.  

 

Em 2023, a MedTrauma executou mais de 30 mil cirurgias em todo o país, sempre prezando por atendimentos de qualidade, com foco no bem-estar dos pacientes, o que nos tornou referência nacional pelos resultados apresentados na prestação de serviços.  

 

Enfatizamos ainda que estamos direcionando todos os nossos esforços para reverter essa decisão a fim de que a população mato-grossense não seja prejudicada.  

 

Destacamos, por último, que as questões de saúde são complexas, envolvem vidas humanas e não devem ser tratadas de forma banalizada, por meio de campanhas ou ondas de ataques à reputação, sem a devida avaliação objetiva dos fatos.

 

A MedTrauma a certeza de que, no momento certo, a realidade e a verdade serão restabelecidas. Esperamos que os enormes danos já causados à empresa, seus donos e colaboradores - e sobretudo aos pacientes por ela atendidos - sejam os menores possíveis.  

MEDTRAUMA MEDICINA ESPECIALIZADA"

Fonte: Gazeta Digital