'Quando o fogo chega, a morte chega junto', diz veterinária que resgata animais de incêndios no Pantanal

Carla Sássi, médica veterinária e uma das fundadoras do Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD), relatou o que encontrou na região, que sofre anualmente com os incêndios

Com os focos de incêndio que atingiram o Pantanal norte de forma descontrolada no último mês, muitos voluntários se hospedaram em pousadas próximas aos locais de incêndio, com o intuito de resgatar animais silvestres que tentavam sobreviver a queimada. Carla Sássi, médica veterinária e uma das fundadoras do Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD), relatou o que encontrou na região, que sofre anualmente com os incêndios.

 

Voluntária desde 2011, Cássia já atuou na região serrana de Nova Friburgo, nos incêndios do próprio Pantanal em 2020 e 2021. Também trabalhou nas áreas atingidas pelos rompimentos de barragem em Mariana e Brumadinho, ambas em Minas Gerais, para cuidar dos animais que foram atingidos pelo desastre.
 

“É muito complexo para retirar os animais dos incêndios florestais, porque o fogo é muito perigoso. A gente faz a busca ativa, no pós-incêndio e pensa também afugentar animais quando fogo está se aproximando. Nós resgatamos muitos intoxicados pela fumaça e em estado grave por causa do calor", conta a voluntária.

 

A veterinária relata que as principais vítimas do fogo são anfíbios, répteis, serpentes, lagartos, quelônios que não possuem chances de fugir do fogo. Outras espécies também atingidas são pequenos mamíferos como preás, pequenos roedores, ouriço-cacheiro e também aves, que podem ser encontradas tanto queimadas quanto intoxicadas pela fumaça.

 

“Os animais que encontramos com vida, são realocados para não sofrerem mais com o calor, ou com a chance de não sobreviver”, explica.

 

Cássia ainda contesta a secretária de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti, que afirmou que o estado teria criado estrutura para receber esses animais afetados. Ela ainda relata que os animais silvestres são muito desamparados em Mato Grosso.

 

“Desde 2020 ficou a promessa da construção de centros de triagem para animais silvestres, centro de recebimento do Estado na região, mas infelizmente isso não foi feito. Mato Grosso só tem um Centro de Triagem de Animais Silvestres, em Lucas do Rio Verde e que é particular. Então, os animais silvestres eles são muito desamparados aqui", afirma.

 

Os estragos causados pelo fogo esse ano são semelhantes aos de 2020. A médica veterinária relata que os animais não tiveram tempo para se reproduzir. “Esses animais não tiveram tempo para repor a taxa de perda e já estão passando novamente por situações semelhantes”, diz.

 

Cerca de 1 milhão de hectares do Pantanal já foram destruídos e Cássia enfatiza que um trabalho de prevenção eficaz não está sendo feito. “A gente não tem que falar em combate do fogo, a gente tem que falar em prevenção. O fogo ele não pode chegar, porque, quando ele chega, a morte chega junto com ele”, frisa.

 

Voluntários do GRAD e do grupo SOS Pantanal ainda estão nas redondezas, buscando por animais que estejam feridos, debilitados ou precisando de ajuda para se alimentar. 

 

Em vídeo gravado no fim do mês, o grupo mostra diversos jacarés, serpentes, e outros animais mortos devido ao fogo em apenas uma área destruída.