Países africanos defendem reforma do Conselho de Segurança da ONU

Essa arquitetura mundial, oriunda dos Acordos de Bretton Woods, que criaram o FMI [Fundo Monetário Internacional] e o Banco Mundial, não é representativa da realidade atual", afirmou Sall

Em meio à crescente instabilidade internacional, marcada pelo aumento dos conflitos armados, os líderes dos governos da África Ocidental estão intensificando os apelos por uma reforma nos organismos multilaterais das Nações Unidas (ONU), com foco especial no Conselho de Segurança da organização.

O presidente do Senegal, Macky Sall, que lidera uma das maiores economias da região, declarou na segunda-feira (27), em Dacar, a capital do país, que o sistema internacional em vigor prejudica os países africanos, aprofundando as desigualdades.

Durante a 9ª edição do Fórum Internacional de Dacar sobre Paz e Segurança na África, Sall enfatizou a necessidade de uma governança global mais justa e equitativa, destacando a urgência da reforma do Conselho de Segurança da ONU. Ele argumentou que as atuais estruturas, originadas nos Acordos de Bretton Woods, não refletem a realidade atual.

"A reforma do Conselho de Segurança da ONU é prioritária. Essa arquitetura mundial, oriunda dos Acordos de Bretton Woods, que criaram o FMI [Fundo Monetário Internacional] e o Banco Mundial, não é representativa da realidade atual", afirmou Sall.

Ele ressaltou a riqueza potencial da África, mas destacou que as práticas desiguais de trocas contribuem para o empobrecimento do continente. Sall argumentou que uma governança global mais justa permitiria o surgimento de uma África autossuficiente, financiando seus esforços de desenvolvimento e oferecendo oportunidades de comércio e investimento aos parceiros.

Essa posição do presidente senegalês está alinhada com a postura do governo brasileiro, que ao longo deste ano, em várias reuniões internacionais, tem defendido a necessidade de uma mudança na governança mundial. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma visita à África em agosto, expressou a visão de que a ONU já não desempenha o papel para o qual foi criada em 1945, perdendo credibilidade ao longo do tempo.

"A ONU de 2023 está longe de ter a mesma credibilidade da ONU de 1945", afirmou Lula. Ele defendeu a inclusão permanente de representantes da América do Sul, África, Índia e Japão no Conselho de Segurança da ONU, uma demanda constante de países dessas regiões.

O Fórum Internacional de Dacar sobre Paz e Segurança na África, com o tema "O potencial e as soluções de África para enfrentar os desafios de segurança e a instabilidade institucional", reúne cerca de 400 participantes, incluindo especialistas e representantes de governos de dezenas de países, nos dias 27 e 28 de novembro.

Além da preocupação com a reforma nos organismos multilaterais, os líderes africanos também destacaram a ameaça crescente do terrorismo na região. Países como Burkina Faso e Mali têm enfrentado ataques terroristas frequentes, com grupos extremistas, como Estado Islâmico e Al-Qaeda, causando instabilidade e deslocamentos significativos de populações. A Mauritânia, representada por seu presidente, Mohamed Ould Ghazouani, alertou que a violência terrorista na região está se tornando um fenômeno sociopolítico fora de controle.