Uso consciente do fogo reduz incêndios na Chapada dos Veadeiros (GO)

Brigadistas e pesquisadores do Cerrado apontam que o uso consciente do fogo vem ajudando a reduzir os incêndios floresta

Brigadistas e pesquisadores do Cerrado apontam que o uso consciente do fogo vem ajudando a reduzir os incêndios florestais na Chapada dos Veadeiros (GO) nos últimos anos. Prática adotada por parte dos brigadistas da região desde o ano de 2014, ela se expandiu, principalmente, depois dos grandes incêndios de 2017 e 2020 que consumiram, respectivamente, 22% e 31% do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. 

O chamado Manejo Integrado do Fogo (MIF) é o conjunto de técnicas que usam o fogo como ferramenta para prevenir os incêndios florestais, como a queima do excesso de vegetação seca que é propícia a se tornar combustível de incêndios de grandes proporções.  

Na cachoeira de Santa Bárbara, por exemplo, localizada no Quilombo Kalunga (GO), a brigada formada por quilombolas põe fogo no espaço em torno das nascentes e das veredas que protegem o curso do rio para evitar que, no período da seca, incêndios alcancem a mata que protege as águas. 

Entre abril e julho de 2023, os brigadistas do Prevfogo realizaram queimas conscientes em mais de 2 mil hectares dentro do quilombo. O Prevfogo é a unidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Ibama) que atua no combate e prevenção de incêndios florestais.   

Cavalcante (GO) 15/09/2023 – A brigada de incêndio da Prevfogo composta com membros da comunidade quilombola Kalunga, durante simulação de combate ao fogo no cerrado no Engenho II
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Cavalcante (GO) – A brigada de incêndio da Prevfogo, formada por quilombolas, faz simulação de combate ao fogo no Cerrado.  Foto: Joédson Alves/Agência Brasil 

Conhecimento tradicional 

Apesar de adotado pelos brigadistas há quase dez anos, o uso consciente do fogo é parte do conhecimento ancestral do Território Kalunga, sétimo quilombo mais populoso do Brasil com cerca de 3.600 pessoas espalhadas em 39 comunidades por cerca de 261 mil hectares. 

O supervisor da brigada local, o kalunga José Gabriel dos Santos Rocha, contou que a queima do terreno sempre foi uma prática na comunidade.

Nossos antepassados já faziam essas queimas nos pontos estratégicos. Queimavam uma área, dois anos depois queimavam outra área e iam remanejando o combustível. Isso sempre foi feito”, explicou.  

Uso do fogo pelos órgãos do Estado 

O responsável pelo Prevfogo em Goiás, Cássio Tavares, destacou que, no início, a prática do manejo do fogo não foi bem recebida por parte de órgãos ambientais do Estado, da sociedade e da academia. “Muitos foram taxados de loucos” por defender o método, contou o servidor do Ibama.  

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que faz a gestão do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, informou, em nota, que o uso consciente do fogo pelo órgão começou, de forma experimental, entre 2012 e 2014. 

De acordo com o ICMBio, o manejo do fogo para prevenção de incêndios florestais no Brasil foi motivado pela “troca de experiência com outros países que apresentaram resultados positivos na realização de ações de manejo”, em especial, com a Austrália. 

Como exemplo de sucesso, o Instituto citou o caso da Estação Ecológica da Serra Geral do Tocantins, que viu os incêndios florestais despencarem após o manejo do fogo pelo ICMBio, conforme ilustra o gráfico a seguir.  

Gráfico sobre uso do fogo

*O repórter viajou a convite do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)

Edição: Carolina Pimentel